Em vários momentos do dia-a-dia do médico somos confrontados com o “deixa morrer”.
Não deixo. Se a vida de uma pessoa depende do meu esforço,vou dar tudo o que tenho para deixá-la bem,bem viva. E estar bem vivo é estar capaz de sorrir nem que seja graças a uma sopa com cenoura. Poder olhar uma última vez para aquele filho amado,poder pedir perdão e receber perdão,poder dizer tchau,adeus,até breve;poder rir das palhaçadas de uma auxiliar de enfermagem “meio-maluquinha”,poder sentir que o que viveu valeu a pena e que o fim tinha mesmo que um dia chegar.
Morrer com dignidade é morrer tendo dado adeus para os mais amados,é morrer sabendo que todos em sua volta deram o máximo de si para que ele pudesse viver,é morrer consciente de que seu corpo se acabou ,mas a sua alma vive e agora vai viver livre,livre dos sofrimentos emocionais e carnais,livre da dor aguda ou crônica,livre do mau cheiro de um corpo morrendo,livre da prisão em um leito,da prisão nas limitações de um corpo que não responde mais.
Vou sempre investir,não vou deixar morrer,não faz parte do ser médico simplesmente deixar morrer por que viver dói.
Viver pode até doer e doer muito,mas dor ainda maior é morrer sem dignidade.E dignidade tem sentido pessoal. Não é por que você não quer viver de uma ou de outra forma que o outro não deve querer também.